Vizinhos de templos evangélicos criam o movimento 'Deus não é surdo'

Publicado em 12.07.2007

Agora quem está fazendo barulho são os vizinhos dos templos religiosos. Possesso com o som do templo da Assembléia de Deus, ao lado de sua casa, o analista de sistemas Leandro Galassi, 25 anos, criou na Internet o movimento Deus Não É Surdo (www.deusnaoesurdo.com.br), onde se pode desabafar sobre cultos que acabam com o sossego. O número de acessos chegou ontem a 1.100, e os relatos se multiplicam milagrosamente.

Leandro mora há dois anos com os pais e dois irmãos em casa alugada, no bairro do Limão, subúrbio de São Paulo. "Quando aluguei o imóvel, sabia da igreja. Mas não imaginava que seria tanto barulho", diz ele, católico não praticante.

O analista já tentou acordo com o pastor várias vezes. "Eles baixam o som na hora, mas duas semanas depois voltam a exagerar", conta. Ele recorreu ao Programa de Silêncio Urbano, da Prefeitura de São Paulo. Técnicos estiveram no local e recomendaram o revestimento acústico. A igreja ainda não respondeu. O analista tem dificuldades para ver TV e até conversar durante os cultos mais inflamados.

O site chega a registrar até mil acessos diários. E já ganhou adesão de cariocas e moradores de Niterói. Além dos relatos, o site traz enquete sobre as denominações evangélicas e religiões com mais reclamações. A Igreja Universal lidera com 1.045 reclamações, seguida pela Assembléia de Deus (947), Deus É Amor (279), centros de umbanda (238) e Igreja Católica (133).

Som mais alto que de motosserra

Deus pode não ser surdo, mas os vizinhos dos templos estão ficando. Com dados da Prefeitura de São Paulo, o "Deus Não É Surdo" informa que quem mora ao lado de igreja pode estar sujeito a 140 decibéis. De 120 a 130 decibéis, equivalente a barulho de jato ou motosserra, há risco de perda auditiva.

A Prefeitura do Rio oferece o Disque-Barulho, nos telefones 2273-5516 ou 2503-3149. Quem se sentir prejudicado deve fazer a queixa. Técnico agendará visita e, se for o caso, fará medição. O defensor público Marco Aurélio Bezerra de Melo, da Assessoria de Direito da Vizinhança, da Barra da Tijuca, recomenda ponderação. A Constituição garante a manifestação da fé e ao mesmo tempo o direito ao sossego. A Justiça tem ordenado revestimento acústico.

Antônio Carlos Rodrigues, 42, é vizinho de uma igreja e afirma: "Para falar com minha mulher, tenho de gritar".

Fonte: O Dia Online, 06/07/2007

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