Foursquare, o novo queridinho da internet
Número de usuários do aplicativo para smartphones cresceu 500% em 2010. O Yahoo ofereceu US$ 125 milhões pela empresa. O que é o Foursquare, e por que é tão desejado?
Renan Dissenha Fagundes (texto) e David Michelsohn (edição multimídia)
Vadim Lavrusik
SUCESSO
Fundadores do Foursquare e amigos comemoraram em Nova York feriado criado pelos fãs do aplicativo
No dia 16 de abril, cerca de 150 festas foram realizadas ao redor do mundo, todas em homenagem a um aplicativo para celulares chamado Foursquare. Fãs do aplicativo, sem nenhuma relação com os seus criadores, declaram a data o Dia do Foursquare. [A piada é infame: os americanos escrevem 16 de abril "04/16" - 16 é o quadrado (square) de quatro (four)]. No terraço de um edifício em Nova York, os criadores da rede social, com seus 30 e poucos anos, comemoraram o sucesso em um feriado autoproclamado. (Comemoraram também um crescimento de quase 500% em quatro meses.) Mas o que é o Foursquare? Em resumo: é uma rede social baseada na localização física de seus usuários, com elementos que lembram games. Tem pouco mais de um ano de existência e antes de janeiro de 2010 só funcionava em algumas cidades. Agora, é a empresa iniciante mais comentada da web, desejada por gigantes como Yahoo e Facebook, e inevitavelmente comparada ao Twitter em questão de euforia provocada nos usuários e nos investidores.

O Foursquare dá o próximo passo da onipresença das redes sociais no cotidiano e adiciona uma nova camada de informação ao mundo virtual. Uma camada de informação muito importante. Enquanto o Twitter e o Facebook querem saber o que você está fazendo, o Foursquare quer saber onde você está fazendo, em tempo real, direto do seu celular. Informação geolocalizada, tendência dominante nos próximos passos da internet (o Twitter lançou algo similar com o Places, o Google tem o Latitude e o grande concorrente do Foursquare é o Gowalla, além de rumores de um projeto geolocal do Facebook.) Sabendo onde você está, o Foursquare pode se transformar ou em um jogo ou em uma nova - e útil - forma de comunicação (ou nos dois).

Confira no infográfico abaixo como funciona o aplicativo.
A principal novidade do Foursquare é a possibilidade de deixar comentários nos lugares visitados. Quando você faz um check-in - isto é: diz para o aplicativo onde está -, por exemplo um restaurante, pode escrever que o atendimento é ruim, que na quarta-feira lota. Pode deixar dicas na página daquele bar em que você vai toda sexta-feira. É uma espécie de pichação virtual; é como se você deixasse comentários escritos nas paredes para os próximos frequentadores. Dicas como esta de Venâncio Filho, sobre uma loja de fotografia em Curitiba: Ótimo local pra comprar eletrônicos e equipamentos de fotografia. Preço bom, aceita encomendas, atendimento atencioso. "Sempre que dou check-in em um lugar novo procuro deixar uma dica. Meu prato preferido no restaurante, o preço de algo que comprei (quando é realmente mais em conta do que em outros lugares), o atendimento e qualidade do serviço (se foi bom ou ruim)", afirma Venâncio, que trabalha como fotógrafo profissonal na capital paranaense.

Ainda há poucos comentários nos estabelecimentos brasileiros, em parte porque não há muitos usuários, mas também por uma falta de costume de deixar dicas úteis. Há muita coisa inútil, boa parte dos comentários são efêmeros, coisas como vai ter um show legal aqui no dia tal. "O brasileiro não tem a cultura de fazer avaliações ou comentários na web", afirma o desenvolvedor Rodrigo Kaveski, usuário do Foursquare. "Por exemplo, na Amazon você acha dezenas de comentários sobre produtos adquiridos, já no Submarino, que é a nossa referência em e-commerce, há pouquíssimos produtos avaliados."

O Foursquare também serve para tirar as pessoas da internet e colocá-las em contato com o mundo real. O programa te mostra quais amigos estão onde você está, ou perto, para que você possa encontrá-los. "No show do Moby no Rio consegui ver quem estava por lá através do Foursquare", conta o blogueiro e profissional de tecnologia da informação Bernardo Bauer, que faz seus check-ins no Rio de Janeiro. O contrário também funciona: o Avoidr é um aplicativo desenvolvido a partir do Foursquare que avisa onde estão seus "inimigos", para que você os evite. "Mantenha seus amigos perto e seus inimigos lá naquela bar", afirma o slogan do Avoidr.

O Foursquare cresce em um ritmo alucinante. Terminou 2009 com 170 mil usuários, passou de um milhão em abril - um crescimento de quase 500%. Deve passar de 3 milhões ou mais ainda em 2010. "Quando você chega a um milhão de usuários pode começar a apresentar pessoas para outras pessoas. Você pode fazer várias coisas interessantes", disse Dennis Crowley, co-fundador do aplicativo. O primeiro motivo para esse crescimento foi que o Foursquare, a partir de janeiro, tornou possíveis check-ins no mundo todo - antes o serviço era limitado a algumas cidades. Depois, em março, durante o South By Southwest (SXSW), festival que une música, vídeos e tecnologia no Texas, o aplicativo experimentou um boom no crescimento - o primeiro boom de crescimento do Twitter, em 2007, também foi durante um SXSW.


Vadim Lavrusik
DESCOLADO
Dennis Crowley, um dos fundadores do Foursquare, vendeu o Dodgeball para o Google e o Google fechou a empresa.
Em um ano já querem comprar o Foursquare
Dennis Crowley criou o Foursquare a partir das cinzas de um outro projeto, o Dodgeball. Criado em 2000, o Dodgeball foi o primeiro serviço social móvel dos EUA, uma pré-história do Foursquare. Funcionava através de SMS (o Foursquare também funciona, para quem não tem iPhones, Blackberries e celulares com Android, mas só no território americano) e era bem mais simples. O Dodgeball foi comprado pelo Google em 2005, fechado em 2009 e substituído depois pelo Google Latitude. Junto com um ambiente tecnológico mais propício (smartphones e internet 3G), o que faz o novo serviço muito diferente do antigo é que o Foursquare também funciona como uma espécie de jogo, o que aumenta o interesse no aplicativo. Há o cargo de prefeito, que fica com quem fizer check-ins mais vezes no mesmo lugar. Além disso, quando faz check-ins, você ganha pontos e pode destrancar badges, prêmios engraçados que se referem aos lugares que você visitou. Pizzaiolo, por exemplo, para quem passar por 20 pizzarias diferentes, ou a I'm on a boat, para quem fizer check-in dentro de um barco. O Foursquare criou até uma badge para o Polo Norte - a Last Degree, ou Último Grau em português. O texto do prêmio diz: Parabéns por fazer isso no Pólo Norte! Respire fundo, coloque sua bandeira e tenha certeza de voltar para casa em segurança!. O primeiro a conseguir a Last Degree foi um adolescente de 15 anos, Parker Liautaud, o mais jovem a esquiar até o meio do Ártico.

Junto com o entretenimento, está um modelo de negócios. Para quem é dono de um estabelecimento, as promoções vêm naturalmente: dar brindes para os prefeitos. Com o Foursquare o dono de um bar pode saber quem é o frequentador mais assíduo do seu balcão e dar bebidas de graça para ele. Um programa de fidelidade 2.0. Mesmo com poucos usuários, as promoções já chegaram ao Brasil. A rede de comida italiana Spoleto vai lançar uma campanha na próxima semana pra presentear prefeitos de algumas lojas no Rio de Janeiro e em São Paulo. "Uma pessoa só vai querer ser prefeito de um lugar que ache bacana", afirma Tom Leite, diretor de marketing do Spoleto. "Você vira um embaixador dos locais que aprecia. O presente é um obrigado à pessoa pela fidelidade." A Perdigão também está usando o Foursquare em uma campanha em redes sociais. (Mais ou menos a mesma ideia, prêmios para prefeitos.)
Em Londres, a marca de calçados Jimmy Choo criou uma caça ao tesouro com a ajuda do aplicativo. Um par de tênis da nova coleção da marca vai fazer check-ins em lugares da moda na cidade e ficar apenas alguns minutos em cada endereço. Quem conseguir pegá-los ganha um par no seu tamanho.

Outra ideia já implementada é a de badges próprias. O Wall Street Journal fez uma parceria com o Foursquare para a criação de prêmios exclusivos para os leitores nova-iorquinos do jornal. A Lunch Box, por exemplo, (que também é o nome da coluna de gastronomia do jornal) só estará disponível para quem for em restaurantes resenhados pelo WSJ. O Starbucks possuiu a badge Starbucks Barista. A prefeitura de Chicago, terceira maior cidade dos EUA, também usa o Foursquare, com dicas sobre turismo e badges exclusivas relacionadas com a história da cidade: como a On Location, para quem visitar cinco lugares de Chicago em que foram filmadas cenas clássicas do cinema [vale a cena do museu do filme Curtindo a Vida Adoidado]; ou a Celery Salt, para quem fizer check-in em cinco lugares que servem cachorro-quente à moda de Chicago. O Foursquare também fez parcerias de badges com a HBO, o History Channel, a Universidade Harvard, o jornal Metro, o New York Times e a Warner Bros.


Talvez por isso tudo exista tanto interesse em comprar o Foursquare. O Yahoo já fez uma oferta. Segundo o site All Things Digital, o valor oferecido é US$ 125 milhões. Há outros rumores envolvendo a Apple e o Facebook, mas nada que possa ser comprovado. "Nós vamos fazer o que for melhor para o produto", disse Crowley à Bussinessweek na semana passada, afirmando que tudo será resolvido rapidamente. "Eu quero acabar com as distração e voltar para o trabalho."

O problema com a proposta do Yahoo parece ser que a empresa não quer garantir controle total do Foursquare à equipe de Crowley após a compra. Ele já passou por isso - saiu do Google em 2007, dois anos após a venda do Dodgeball. "Crowley já vez uma venda prematura antes e não deveria repetir o feito", afirmou Michael Arrington, editor do blog especializado em tecnologia TechCrunch. Arrington escreveu um texto com o título Não se venda, Foursquare. Não agora. Não para o Yahoo. "O Yahoo é uma má escolha para o Foursquare, pois a companhia tem um histórico de não alavancar as empresas que compra - isso quando elas não desandam de vez."

O blog Mashable, especializado em redes sociais, também é contra a venda. "Querido Fousquare: Essa não é a hora certa para a venda", escreveu o editor do site, Ben Parr. A opção seria apostar no Foursquare independente. Parr acredita que, com o modelo apresentado até agora, a empresa consiga crescer sozinha. Sozinha, também, é eufenismo. A opção mais aceita é levantar fundos com investidores - e há vários investidores dispostos a colocar dinheiro no Foursquare, uma soma que pode chegar a US$ 80 milhões. Parr acha que é melhor para o aplicativo apostar em um crescimento próprio.

Essa foi a aposta do Twitter. Não se vender, inovar por conta própria. A vantagem do Foursquare é um modelo de negócios muito mais óbvio do que as eternas discussões sobre a monetização do Twitter. Uma desvantagem clara é que o Foursquare precisa de mais tecnologia, precisa de aparelhos de celulares modernos - um impasse para crescer no Brasil, por exemplo, que no Twitter é o terceiro país com mais usuários. E os usuários são muito importantes. Boa parte do que é interessante no Twitter se deve aos usuários, que criaram formas inovadoras de utilizar o serviço. O Foursquare já tem fãs engajados, criando feriados e organizando festas. O que falta: mais pessoas e tempo para criar uma quantidade de conteúdo relevante e deixar de parecer apenas um jogo.

Fotos: (CC-BY) Vadim Lavrusik / Via: revista Época / Beréia Urbana