30/01/2009 - 13:41 por Patrícia Nunan e Nataniel Gomes

História de amor de C. S. Lewis é contada em filme

'Terra das Sombras' narra um pedacinho da vida de um dos maiores teólogos leigos da modernidade, Clive Staples Lewis, mais conhecido pelo grande público como C.S. Lewis.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Terra das Sombras foi dirigido por Richard Attenborough, presidente da BAFTA, a academia britânica responsável pela premiação anual dos melhores trabalhos realizados em cinema, televisão e outras mídias audiovisuais. Entre seus trabalhos mais conhecidos podemos encontrar cinebiografias de famosos, como Ghandi, ganhador dos Oscars de melhor filme e direção em 1982, Chaplin, No amor e na guerra (sobre a vida do escritor Ernest Hemingway). Curiosamente ele também ator e participou de filmes mais populares como Jurassic Park, Milagre na Rua 34, entre outros.  

Estrelado pelo sempre fantástico Anthony Hopkins (Silêncio dos inocentes) e por Debra Winger (Fé demais não cheira bem). É baseado na peça teatral homônima, de William Nicholson, ainda em cartaz em Londres. O foco do filme está em um dos momentos mais significativos na vida dele: quando conhece Joy Greesham, uma cristã judia-americana, escritora e poetisa, abandonada pelo marido, com quem ele trocava inúmeras correspondências. Foca o momento-encruzilhada do enfim, o amor (e por que não dizer, da alegria e da dor inerentes); amor que inicialmente Lewis denega, mas, por fim, assume, casando-se com ela "diante de Deus, dos homens e de si mesmo".

Não dá para não se emocionar com a história de "Jack", como ele era conhecido pelos amigos, e Joy! E embora os olhos azuis de Hopkins não tenham nada a ver com os castanhos de Lewis, o ator dá um verdadeiro show de interpretação, especialmente nos olhares sem palavras de um intelectual que tem resposta para tudo, mas não sabe falar de amor, amando; o Lewis que pergunta a si mesmo: "Como poderia ser Joy minha esposa?  Eu teria que amá-la, não teria?  Eu teria que gostar mais dela do que de qualquer outra pessoa no mundo.  Eu teria de sofrer como um condenado com a perspectiva de perdê-la".

Além de lançar luz sobre esse gigante intelectual que marcou e influenciou o pensamento cristão ocidental do século 20, Terra das Sombras permite-nos ver Lewis sob um prisma mais intimista e humano (e com algumas de suas idiossincrasias); o Lewis de dentro, por trás de suas declarações. Assim, quem já leu seus livros percebe facilmente a relação entre sua vida e suas obras aludidas no filme; entre as quais, das Crônicas de Nárnia, O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, cujo enredo é aludido por ele e pela cena com o filho de Joy; O problema do sofrimento, onde defende que "a dor é o megafone de Deus"; O grande abismo, cujo acidente (real) com o ônibus, referido por Lewis, parece tê-lo motivado a escrever a história ficcional; e A anatomia de uma dor, vislumbrado pela revolta de Lewis em relação a Deus após a morte de sua amada.

Há ainda uma outra versão com o mesmo título, sendo mais fiel à história real, com o mesmo título. Nessa outra versão, os dois filhos da Joy aparecem e o final é menos pessimista. Quem não conhece os detalhes pode ficar com a impressão que Lewis perdeu a fé ou que começou a relativizar tudo.  Mas existe uma frase que dita de forma ligeiramente diferente no final dessa versão que faz toda a diferença do mundo, mostrando um homem que já não tem todas as certezas do mundo.

Em suma, o filme conta a história maravilhosa de um amor no limite entre a vida e a morte, ou melhor, para além da vida e da morte; o amor de alguém que tinha consciência de que "vivemos na terra das sombras.  O sol sempre está brilhando em outro lugar; depois de uma curva da estrada; além do alto de uma colina"; alguém que, como menino, optou pela segurança; como homem, pela dor. Reflexivo, emocionante, imperdível!

Infelizmente, o filme continua inédito em DVD nas duas versões no Brasil. Ele foi lançado apenas em VHS e é praticamente impossível de ser encontrado atualmente. Vamos torcer para a Warner lançar a versão comentada.