Moça, negro pode morar em apartamento?
Renato Vargens
Foi exatamente isto que um menino de aproximadamente oito anos perguntou a minha esposa ao abordá-la na saída do prédio em que moramos.
Naquela tarde, ao olhar para o pequenino e perceber as marcas da dor e da exclusão social, Ana Cristina, movida pela simpatia e doçura que lhe é peculiar respondeu:
- Claro que sim, todos podem. Mas para tanto, disse ela, é necessário ir à escola, estudar, além de se dedicar a aprender os ensinamentos da professora.
O menino, demonstrando perplexidade diante daquilo que ouvira novamente lhe indagou:
-Moça, você é professora? Sou sim, respondeu ela. Ao ouvir-lhe a réplica, o garoto, o qual parecia nunca ter ido à escola, demonstrou nítida perplexidade por conversar tête-à-tête com uma educadora, até porque, para ele, aquele momento era mais do que mágico, afinal de contas, uma professora estava com ele conversando.
Caro leitor, diante do fato narrado fico a pensar quantas crianças têm passado pela vida literalmente à margem da sociedade. Quantas delas são estigmatizadas, violentadas em seu habitat, marginalizadas por uma burguesia preconceituosa, discriminadas pela sua cor. Quantas delas não possuem familias, casas para morar, pais e mães, beijos, carinhos e abraços. Ora, é indispensável que entendamos que não dá para a gente pensar em um mundo melhor, sem que nossas crianças freqüentem a escola. É inadmissível que em pleno século XXI, meninos e meninas continuem deixando de desfrutar dos benefícios proporcionados pela a educação e cultura.
A educação se constitui como direito fundamental e essencial ao ser humano, e diversos são os documentos que corroboram com tal afirmação. A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, afirma que "é direito de todo ser humano o acesso à educação básica", assim como a Declaração Universal dos Direitos Humanos que estabelece que "toda pessoa tem direito à educação".
De acordo com pesquisas realizadas pela UNESCO, constatou-se que milhões de pessoas ainda não têm acesso à educação, onde " mais de 100 milhões de crianças, das quais 60 milhões são meninas, não tem acesso ao ensino fundamental.
Diante do quadro que se pinta pergunto: E a igreja Evangélica diante disso tudo? O que tem feito? Por acaso você já parou para pensar o "boom" que seria se nossas igrejas entrassem para valer em um projeto de erradicação do analfabetismo? Ou se tornassem parceiras do Estado e do restante da sociedade civil visando aumento de escolaridade de nossos meninos e meninas?
Quanto coisa poderia ser feita não é verdade?
Pense nisso!
Soli Deo Gloria,
Renato Vargens
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