A escolha de Lúcifer
Ele era bem sucedido.
O mais bonito, o mais inteligente de todas as criaturas do universo. Possuía o dom da música dentro de si, e desde o inicio, destacou-se como um líder nato.
Atraia multidões de outras vozes celestiais, e fazia com que seu Pai se orgulhasse.
No entanto aquilo tudo não era suficiente.
Mesmo tendo o universo à sua disposição, mesmo dotado de imortalidade e esplendor, aquilo tudo não era suficiente. Ele almejava mais.
Boquiaberto assistia ao Mestre dos mestres colorir o céu todos os dias, enquanto escondido, permitiu que aquilo que também existiu desde o início dos tempos invadisse seu ser...
Não sabe-se ao certo como e quando começou. Mas acredito que não ocorreu instantaneamente.
Demoraram-se dias, anos, talvez séculos, até que estivesse completamente dominado por aquele sentimento.
Cantar com os anjos já não bastava. Os passeios entre as galáxias já não eram suficientes para satisfazê-lo. Nada o satisfazia; Ele queria criar e ser louvado por isso.Ousou desejar ser o Criador.
Um golpe. Era isso que ele queria.
E para isso articulou os céus, usou todos os dons que havia recebido daquele "tolo" (como costumava chamar o Criador), e moveu a multidão de anjos como ele.
Manipulou quase a metade do céu às escondidas. Usou de astucia e falsidade. Estava tudo infalivelmente planejado.
Antes de o sol nascer o reino haveria de ser dele. Tudo dele.
A caixa de Pandora havia sido aberta, e a esperança escondia-se tímida no fundo do baú.
O Criador obviamente sabia de seu plano e desde o inicio aguardou pacientemente o momento certo.
Observou atentamente cada movimento do traidor durante dias, semanas, séculos... e nada fez. Sabia que por detrás do sorriso, do canto, dos passeios à outras galáxias estava-se arquitetando um plano contra Ele.. e nada fez. Permitiu que tudo seguisse seu curso, pois sempre acreditou que as criaturas deveriam amá-Lo não por obrigação, mas por escolha.
Pura e pessoal escolha.
Entre os anjos corria o boato de que o Rei seria deposto, e o desespero e o medo assombraram os céus.
O sol se pôs e o cenário estava armado. Apenas um golpe seria suficiente, pensava o traidor
Sabendo então que aquele era o momento certo, o Criador levantou-se de Seu trono, com poder e toda a majestade jamais vista antes naquela dimensão dos céus, soltou um brado de guerra e declarou a sentença do traidor!
Imediatamente os céus e todas as galáxias se abalaram. Tudo já criado e que havia de criar-se ouvira o brado do Criador. O traidor assustado, em pânico, tentou correr. Mas para onde fugiria? Para onde iria aquela mísera criatura, se o Criador de tudo sabia?
E ele veio parar aqui... Aqui mesmo na terra. Jogado, condenado por um período de tempo por aqui. Ele e seus rebeldes.. que beberam de seu amargo fel. Rebeldes que o odeiam com todas as forças, pois ele não apenas os roubou a eternidade como até hoje os submete à seu poder. Ilusório poder.
Em nenhum momento as coisas fugiram do controle do Criador, que antes que tudo isso acontecesse no céu, já sabendo que aconteceria, foi à frente e encontrou uma utilidade temporária para Lúcifer. Sem saber, ele ajudaria no aperfeiçoamento de Sua obra-prima. Sem saber, todo o seu aparente poder seria, no final, usado a favor do Rei, que ainda hoje reina com toda majestade. E assim há de ser eternamente.
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