10/07/2007 - 10h26
Livro viaja aos anos 70 a bordo do 'Maveco'

Cláudio de Souza
Editor de Carros

Reprodução do livro
Exemplar GT amarelo, com a pintura no capô usada de 1973 a 1976 Mais

Quem dirige nas capitais brasileiras sabe o que é a monotonia da (falsa) diversidade: apesar das dezenas de marcas e modelos de automóveis em circulação, às vezes bate a sensação de que só há uns cinco ou seis carros, distinguíveis mais pelo porte do que pela graça, homogeneizados em tons de cinza.

Mas não foi sempre assim. Quem tem mais de 30 anos deve se lembrar de um tempo no qual os carros eram verdes, amarelos, marrons (do bege ao café), azuis (do celeste ao escuro) -- e no qual, apesar de serem poucos os modelos, havia mais personalidade em cada um deles. Em certa medida, o livro "Maverick - Um Ícone dos Anos 1970", de Paul William Gregson (Editora Alaúde, R$ 69), funciona como uma máquina do tempo com destino a essa época, e a bordo de um de seus modelos mais emblemáticos: o nosso "Maveco".

Gregson, que apesar do nome é brasileiro e vive em São Paulo, tem 38 anos e é um aficionado pelo modelo da Ford. Ainda hoje, conserva quatro exemplares de Maverick em sua garagem; no final deste mês, vai aos Estados Unidos divulgar seu livro no 14º encontro anual de fãs norte-americanos do modelo.

O 'MAVECO' EM IMAGENS
Reprodução
Um Maverick Grabber, versão esportiva dos Estados Unidos
Reprodução
O emblema da Ford na grade dianteira de um Super Luxo
Reprodução
Versão GT do Maverick, com capô pintado, a qual durou até 1976
Reprodução
Maverick disputando uma corrida e superando alguns Opalas
MAIS FOTOS DE MAVERICK
Ao longo de 208 páginas bilíngües (português e inglês), num formato que imita o dos manuais do proprietário, Gregson traça um panorama histórico do Maverick, desde sua concepção nas pranchetas da Ford nos Estados Unidos como um carro compacto, abertamente inspirado no Mustang, qur tinha a missão de enfrentar a invasão de modelos pequenos europeus (sim, nos EUA das "banheiras" o Maverick era considerado pequeno), até sua descontinuação no Brasil, na virada para os anos 1980, quando o mercado interno preparava-se para a mudança representada pela chegada de modelos como Gol e Monza, além da consolidação da Fiat.

Visão geral
Apesar de o Maverick ser o tema central, o livro se preocupa em oferecer ao leitor uma visão geral do mercado de automóveis da época, oferecendo uma profusão de tabelas (apenas com preços em cruzeiros) e interessantes reproduções de anúncios publicitários -- a maioria deles com textos enormes, algo que hoje seria considerado insano.

Para dar uma idéia da concorrência enfrentada pelo "Maveco", vários outros modelos são abordados, muitas vezes com informações curiosas: há capítulos curtos sobre, entre outros, o Opala (cujo nome surgiu da fusão de Opel com Impala, dois modelos que o inspiraram), o Dodge 1800 (que virou piada interna na Chrysler devido à quantidade de defeitos de fabricação), o Corcel II (modelo que agradava aos mais idosos e que, por pouco, não teve uma versão com duas portas de um lado e apenas uma do outro) e o Passat -- sobre a versão esportiva desse, num trecho delicioso, escreve o autor: "O TS tinha volante esportivo, conta-giros, console, bancos altos, grade com quatro faróis e faixas exclusivas, ganhando assim a preferência dos playboys da época".

Na parte especificamente voltada ao Maverick, há uma preocupação com o detalhe que chega a incluir os preços do carro e de seus acessórios nos EUA. Lá, o mais barato custava US$ 2.190; colocar ar saía por US$ 363, e direção hidráulica por US$ 92 (evidentemente, não há como comparar os valores da época com os preços atuais).

Também é abordada a produção do Maverick no Canadá e no México, os outros dois países em que o modelo foi comercializado além dos EUA e do Brasil.

Crise fatal
A trajetória nacional do Maverick iniciou-se em 1972, quando a produção do modelo foi anunciada pela Ford ao governo militar. No ano seguinte o carro foi apresentado com muita pompa à imprensa e em seguida lançado ao público, num exemplo clássico de timing infeliz: 1973 foi o ano da crise internacional do petróleo, sentida agudamente no Brasil e demais países importadores.

Mesmo assim, a Ford seguiu a praxe da época e pôs à venda diversas versões do carro: cupê e sedã, com os acabamentos Super, Super Luxo e GT (só cupê); a motorização poderia ter 6 ou 8 cilindros, e em 1975 ganhou a versão com 4 cilindros.

Em 1977 foi criada a versão LDO, que substituiu a Super Luxo -- mas a crise era mesmo grave e, em 1979, o Maverick não escapou do mesmo destino de quase toda a geração daquela década, e teve sua produção encerrada.

Candura
O livro de Gregson contém muita informação, apoiada por extensa bibliografia, e por isso parece confiável como fonte de consulta. Mas tem alguns defeitos de estilo, talvez explicáveis pelo fato de o autor não ser um escritor profissional -- mas não justificáveis em se tratando de um livro tão caro.

Mas isso não chega a atrapalhar a quase candura com que o texto descreve o Maverick e os demais carros da época (alguns desses até mais interessantes que o foco da obra, diga-se). E a seleção de fotos é tão curiosa e nostálgica que já pode valer o investimento de quem curte carros em geral.