POLÍTICA

De Joaquim em Joaquim se chega lá, por Ateneia Feijó

Sem querer estereotipar. E também sem rapapés... A posse do ministro Joaquim Barbosa na presidência do STF (na semana da consciência negra) será inesquecível. A começar pelo flagrante de felicidade do ministro com sua família, dignamente emocionada diante do filho. Aquele que tinha como meta chegar a presidente de um dos três poderes máximos do Brasil.

Para mim, em comparação às festas de posse dos outros presidentes, a dele foi a mais bonita.

O JB celebridade rolou antes. Originou-se na busca dos jovens por referenciais, que nele encontraram a figura do super-herói contemporâneo. Cara corajoso, honesto, fiel à Constituição e com uma capa poderosa para voar no ciberespaço.

Brincadeira? Teve racista enrustido chocado. Gente preconceituosa inconsolável, desejando, lá no fundo da alma, um instante na pele de Joaquim! Sem, obviamente, a sua perseverança, inteligência, cultura, disciplina etc e tal. Sei. Tudo isto já foi dito de alguma maneira. Só que tem uma coisa que me incomoda.

Percebo pessoas surpreendidas com o mérito do ministro; com o nível de suas conquistas. Como se as aptidões comuns de afrodescendentes fossem o trabalho manual. E os talentos extraordinários se expressassem apenas nos esportes, na dança e na música. Os quais, de qualquer forma, são admiráveis.

Entretanto, negros e mulatos nunca deixaram de expressar aptidões e talentos diversos, de acordo com as oportunidades de seu tempo. Hoje, estudantes de todas as cores e etnias precisam conhecer a história afrobrasileira com maior amplitude. E com otimismo.

Ou seja, precisam saber de pretos e pardos ilustres que marcaram a vida do país.

Na engenharia, no final do século 19, início do século 20, por exemplo, destacaram-se os engenheiros negros André Rebouças e Teodoro Sampaio. Na medicina, o psiquiatra Juliano Moreira.

O próprio STF teve ministros mulatos no início do século passado: Hermenegildo de Barros e Pedro Lessa. E o presidente da República Nilo Peçanha.

Outro ilustre foi Ernesto Carneiro Ribeiro, o professor preto que polemizou com Ruy Barbosa, seu ex-aluno, sobre a revisão ortográfica do Código Civil Brasileiro. Sim, tem Machado de Assis, Lima Barreto, José do Patrocínio, Carlos Gomes. Tantos... Entre os mais recentes, o internacionalmente respeitado geógrafo Milton Santos (falecido em 2001).

O preconceito os "descolorem", tornando-os invisíveis. Ainda bem que a melanina está aí, firme e forte. E disso eu entendo porque minha família é miscigenada. 

Ateneia Feijó é jornalista