Internautas vão descobrir fórmula para ganhar dinheiro com Twitter, diz criador do site

RODRIGO FLORES
Da Cidade do México*
Jack Dorsey, 32, é um homem de poucas palavras. Tímido e objetivo, na avaliação informal dos que puderam dividir jantares e mesas de bar com ele no último final de semana na Cidade do México, durante a segunda edição da Alliance of Youth Movements, evento que reúne especialistas em tecnologia e jovens engajados em causas sociais pelo mundo.

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Das poucas palavras de Jack surgiu em 2006 o Twitter.com, um site que permite a publicação de mensagens com no máximo 140 caracteres. Três anos depois, o Twitter é um fenômeno mundial e a rede social que mais cresce no Brasil.
  • AFP
    Jack Dorsey: "Uso muito os serviços por SMS. Sigo 25 pessoas pelo SMS, e recebo uma mensagem sempre que eles atualizam. Para todas as outras pessoas que eu sigo pela web ( 670), geralmente eu verifico atualizações a cada hora"



Mas Jack Dorsey tem muito a dizer. Pelo menos, é assim que pensam os seus mais de um milhão e trezentos mil seguidores no microblog. No mundo virtual que ele criou, Jack é mais popular que o ator e político Arnold Schwarzenegger, que o cantor Lenny Kravitz e que a tenista Serena Williams. E o número de seguidores cresce diariamente.

De olho na receita
Apesar da popularidade do serviço, Dorsey ainda persegue a fórmula que fará do Twitter um sucesso comercial. "A companhia está focada em fazer dinheiro. Nós precisamos pensar assim", afirmou. A solução, segundo ele, deve surgir da própria comunidade de usuários do serviço. "Queremos soluções que fortaleçam a comunidade e tragam mais pessoas."

De olho em formas de monetizar Twitter, Dorsey defendeu inclusive os usuários que recebem dinheiro de empresas para publicar mensagens, o chamado tweet pago. "Acho útil que as pessoas estejam fazendo isso", afirmou. Questionado sobre parcerias com operadoras de telefonia para dividir a receita obtida com SMS e outros serviços, ele argumentou que o modelo não se sustenta no longo prazo. "Não é o modelo que queremos. Depender das operadoras não é uma boa."

Dorsey recebeu o UOL Tecnologia na última sexta-feira (16), na capital mexicana. Veja abaixo trechos da entrevista.

UOL - No Brasil, algumas pessoas começaram a vender tweets. Ou seja, pessoas estão ganhando dinheiro para postar mensagens e links. Como você vê isso? E de uma forma mais ampla, como você vê as experiências para se ganhar dinheiro com o Twitter?
Jack Dorsey
Acho útil que pessoas estejam fazendo isso. Há aspectos negativos se os links forem para sites suspeitos. Mas acho interessante explorar essa fórmula. A companhia está focada em fazer dinheiro. Nós precisamos pensar assim. Caso contrário não teremos como investir em novas tecnologias ou manter o serviço funcionando.

UOL - E como está a sua conta bancária?
Jack Dorsey
Está bem (risos). Falando sério, a companhia está se esforçando e experimentando modelos que acreditamos que podem funcionar, e muitos desses modelos vieram do que aprendemos com os nossos usuários. É preciso agir com cautela para ter certeza de que eles funcionarão bem para toda a rede, e não sejam apenas casos isolados de sucesso. É algo que estamos constantemente preocupados. Vai levar algum tempo, e agradeço a paciência dos usuários, dos investidores e dos nossos funcionários. É importante ter calma até achar algo que funcione.

UOL - Você vê o SMS como possível fonte de receita para o Twitter?
Jack Dorsey
Não de receita sustentável. Não conseguiremos criar uma grande empresa com base nisso. Não é o modelo que queremos. Depender das operadoras não é uma boa.

UOL - Mas e a receita compartilhada sobre as mensagens de texto enviadas pelos usuários?
Jack Dorsey
Mas aí você precisa falar com 190 operadoras ao redor do mundo e convencê-las a repartir a receita, e esse não é o foco que a empresa deve ter.

UOL - Você vê espaço para serviços pagos no Twitter a curto prazo?
Jack Dorsey
Depende do usuário. Há modelos comerciais que achamos que podem funcionar. Fato é que ainda não temos certeza, e a companhia vai experimentar algumas fórmulas, se possível que fortaleçam a rede e que tragam mais pessoas para o serviço.

UOL - São quantos funcionários trabalhando no Twitter hoje?
Jack Dorsey
Somos 80 pessoas contratadas em período integral.

UOL - Quando você se deu conta de que o Twitter cresceu mais do que você esperava?
Jack Dorsey
Todo mundo tem um fato diferente para contar. Para mim, o momento decisivo foi na celebração dos 100 dias após a eleição de Barack Obama. Na ocasião, ele fazia um discurso no Congresso. Havia deputados e senadores assistindo ao discurso, enquanto eu via ao vivo pela CNN. Em certo momento, a câmera mostrou a plateia e notei que muitos dos parlamentares estavam digitando em seus celulares. Na hora pensei "o que está acontecendo? Por que não estão prestando atenção no que diz o presidente? Para quem estão mandando e-mails?" Alguns segundos depois meu celular me avisou que havia uma atualização no Twitter. A senadora (Claire) McCaskill, do Missouri, havia acabado de escrever sobre o que via em Washington. Eu nunca me senti tão próximo dos meus políticos como naquele momento. De repente, tudo o que eu via na TV repercutia naquele aparelho que eu tinha em mãos. Era tão tangível. Essas pessoas que eu via na TV conduziam os destinos do país de repente eram acessíveis. E elas não estavam sendo filtradas, nem passavam por assessores. Esses eram os pensamentos dela, e tudo acontecia em tempo real. Foi um momento de muita inspiração para mim, e naquela hora eu senti que o Twitter poderia ter múltiplos usos.

UOL - Com que frequência você verifica seus tweets?
Jack Dorsey
Eu uso muito os serviços por SMS. Sigo 25 pessoas pelo SMS, e recebo uma mensagem sempre que eles atualizam. Para todas as outras pessoas que eu sigo pela web (cerca de 670), geralmente eu verifico atualizações a cada hora.

UOL - Quais aplicativos você usa e recomenda?
Jack Dorsey
Uso muito SMS. Mas quando estou no iPhone, gosto do Birdfeed e do Tweetie. No desktop, uso Tweetie. A verdade é que eu não uso muito o serviço no computador. Eu consigo acompanhar tudo mais rápido pelo celular, responder mais rápido e focar mais nas mensagens quando estou no iPhone.

UOL - Quanto sua vida mudou em três anos?
Jack Dorsey
Muito trabalho, mas recompensador. É o produto da minha vida. Ser usado por tantas pessoas, ter conversas com elas e ver a tecnologia mudar dramaticamente a vida das pessoas é realmente inspirador.

* O jornalista Rodrigo Flores viajou para a Cidade do México a convite do Consulado Geral dos Estados Unidos