Exposição leva grafite às salas do Masp

FERNANDA MENA

da Folha de S.Paulo





"De Dentro para Fora, de Fora para Dentro", exposição do Masp a ser aberta na sexta, define bem o momento que vivem o grafite e a arte urbana: uma migração dos muros da cidade para o cubo branco das galerias, sem perder o DNA urbano.

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Montagem da mostra "De Dentro para Fora, de Fora para Dentro", que ocupa a galeria subterrânea do Masp
Montagem de "De Dentro para Fora, de Fora para Dentro", que ocupa a galeria do Masp

Munidos de 700 litros de tinta latéx e 600 latas de spray, os artistas Carlos Dias, Daniel Melim, Ramon Martins, Stephan Doitschinoff, Titi Freak e Zezão cobriram 1.500 m2 de chão e paredes da galeria subterrânea do museu.


O que "fora" é só grafite --que coloriu as ruas do mundo a partir dos anos 80--, "dentro" são pintura, fotografia, vídeo e instalação. É com outros suportes que esses artistas exploram a matriz comum da linguagem urbana.




"Nem todo grafiteiro é artista. E, para aqueles que [o] são, a rua é apenas um suporte a mais", afirma Baixo Ribeiro, curador e dono da galeria Choque Cultural, que representa os seis artistas no Masp.


A mostra também discute a ideia de efemeridade, tão comum ao grafite: os murais pintados serão posteriormente apagados. Para Carlos Dias, acostumado à lógica dos espaços públicos, é algo normal.
"Fico mais incomodado em imaginar meu trabalho guardado do que apagado", brinca.





Segundo o curador do Masp, Teixeira Coelho, "De Dentro para Fora, de Fora para Dentro" é "o reconhecimento de um fenômeno cultural que existe na cidade". Ele defende que "o museu tem de abrir as portas para esse imaginário compartilhado que está batendo aí com força. O cara é alternativo até entrar no sistema. E o que ele quer é entrar".


O que o público verá no museu é a consolidação de uma trajetória de reconhecimento de artistas derivados do grafite.


Da ilegalidade às instituições de renome, essa arte precisou de um impulso de fora (do país) para acontecer no Brasil. Os primeiros a ganhar projeção internacional foram Osgêmeos, codinome da dupla de irmãos grafiteiros Otávio e Gustavo Pandolfo.


Carlos Dias, Daniel Melim, Ramon Martins, Stephan Doitschinoff, Titi Freak e Zezão irão cobrir 1.500 m2 de chão e paredes da galeria subterrânea do museu com 700 litros de tinta latéx e 600 latas de spray (13/11/2009)
Esse reconhecimento impulsionou ações de outro movimento de rua, o dos pichadores, que busca espaço com táticas controversas de guerrilha cultural. Segundo Coelho, desde janeiro o Masp vem estudando propostas de exposições de arte urbana. "Houve uma primeira, que o comitê [curatorial] não topou. Mas, agora, chegamos a um consenso."


Osgêmeos barrados
Ironicamente, a Folha apurou que a exposição de grafite rejeitada pelo Masp era justamente a da badalada dupla.
Segundo Miguel Chaia, crítico e colecionador que integra o comitê curatorial do Masp, a recusa a Osgêmeos foi baseada "na sobrecarga mercantilista e na linguagem muito imediata" de suas obras.
Hoje, Osgêmeos parecem estar por toda parte. "Vertigem", mostra da dupla atualmente em cartaz na Faap, tem batido recordes de visitação. Pela cidade, são muitos os desenhos onírico-líricos assinados pelos irmãos, e, no mercado, seus trabalhos atualmente não saem por menos de R$ 30 mil.


DE DENTRO PARA FORA, DE FORA PARA DENTRO
Quando: abertura nesta sexta; de ter. a dom., das 11h às 18h, e qui., das 11h às 20h; até 5/2
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/3251-5644)
Quanto: R$ 15