25/03/2009 - 07:51 por Sulamita Ricardo
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Mudança de maré


Movimento Igreja Emergente chega à adolescência enfrentando
oposição e questionando-se a si mesmo.

O pessoal do Projeto 242 reunido: informalidade é a marca de um
movimento que tem sido questionado tanto de fora como de dentro.

Um movimento surgido recentemente e que ganhou bastante força no
segmento evangélico no final dos anos 1990 já começa a dar sinais de
exaustão. É a chamada Igreja Emergente, anunciada por seus adeptos como
uma espécie de resposta do Cristianismo pós-moderno a questões que há
muito inquietam o povo de Deus, como "O que é ser cristão?", "Qual a
função da Igreja?" ou "O que significa fazer missão no mundo hoje?".
Depois de multiplicar-se pelo mundo principalmente pela via virtual,
através de sites e blogs, o movimento chega à adolescência sem conseguir
suprir as expectativas de alguns de seus mais entusiastas defensores. E
ainda tem sido apontado como um caminho tortuoso que pode levar à
secularização da fé e ao relativismo dos valores bíblicos. Há quem fale
até numa "Nova Era" disfarçada.

Em 31 de outubro do ano passado, o Conselho de diretores da Emergent
Village, o guarda-chuvas que abriga o movimento, resolveu afastar seu
líder, o pastor Tonny Jones. A decisão leva em conta o desejo de a
organização manter seus propósitos originais, ou seja, a
descentralização. A Igreja Emergente começou com um grupo de amigos que
começaram a se reunir nos anos 1990, desiludidos com as instituições
eclesiásticas tradicionais do século 20. Para eles, a vivência do
Evangelho, desgastada pela suposta massificação das grandes igrejas,
precisaria ser retomada informalmente, exatamente como ocorre numa
conversa entre amigos. Com o tempo, outras pessoas se juntaram ao grupo.
O movimento cresceu a ponto de gerar livros, eventos, sites e blogs. Em
2001, foi cunhada a expressão Igreja Emergente, já como contraposição ao
chamado sistema eclesiástico.

A mais marcante característica do movimento, sem dúvida, é a ênfase na
vida comunitária. Por mais que reproduzir o ambiente em que se
consolidou a Igreja Primitiva do primeiro século seja uma utopia
perseguida de tempos em tempos pelos evangélicos, a Igreja Emergente
surgiu com uma proposta nesta linha. "Os relacionamentos são muito
valorizados entre nós", destaca o pastor Sandro Baggio, dirigente do
Projeto 242, uma iniciativa bem original que vem sendo desenvolvida em
São Paulo há mais de dez anos. O grupo começou da mesma forma que os
emergentes americanos, capitaneados pelo pastor Brian McLaren: um grupo
de amigos se reuniu para buscar a Deus, mais gente se interessou e logo
o espaço não suportou mais a quantidade de pessoas.

Comportamentos heterodoxos – No exterior, existem igrejas que se
denominam emergentes simplesmente porque adotam comportamentos
heterodoxos, como velas nos cultos, cântico de músicas não-evangélicas e
bate-papos sobre as coisas de Deus, no lugar das tradicionais pregações.
E são estas inovações, e principalmente o que estaria por trás delas,
que estão na raiz de boa parte dos detratores do movimento. "A onda
emergente tem um caráter ecumenista, despreza as diferenças
doutrinárias", critica a escritora e teóloga pentecostal Mary Schultze.
Segundo ela, a Igreja Emergente é filiada ao Movimento de Crescimento da
Igreja. "Eles pregam o misticismo", aponta.

Mas para o pastor Baggio, o conceito de Igreja Emergente é muito maior
do que isso. "Ela seria o lugar para quem está cansado da metodologia
das igrejas atuais e quer buscar alternativas", define. Para os
emergentes, o rótulo não importa muito. "Não é esse reconhecimento que
move as pessoas envolvidas com essa tendência, mas sim um desejo sincero
de viver e comunicar a fé cristã neste mundo em transição", explica.
Segundo ele, o movimento no Brasil ainda não é forte. Entretanto,
algumas ações dispersas pelo país começam a ser conhecidas, como a La
Red del Camiño, que atua no sul do país, e o Tribal Generation, que já
realizou várias conferências. "O que existe são pessoas em vários
lugares que se interessam pelo tema e buscam saber do que se trata. As
igrejas emergentes são mais famílias do que instituições, mais
comunidades do que ajuntamentos", conclui o dirigente.

Líder da Organização Palavra da Vida, em São Paulo, o pastor Carlos
Oswaldo diz que os princípios defendidos pela Igreja Emergente não são
novos. "Algumas das propostas gerais do movimento já foram recicladas
algumas vezes nos últimos 40 anos", destaca. Ele preocupa-se com alguns
métodos utilizados pelo grupo para a consecução de suas metas –
inclusive, muitas concessões ao pensamento pós-modernista. "Alguns dos
propagadores do movimento adotam uma atitude que poderia ser chamada de
'agnosticismo evangélico', por mais contraditória que seja esta
expressão", critica.

"A Igreja Emergente terá pontos positivos se for considerada apenas como
um movimento não institucionalizado, sem pretensão de oferecer respostas
prontas ou apresentar novas verdades", emenda, por sua vez, o pastor Ed
René Kivitz, líder da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo. Ele
reconhece a simpatia que tem pelo movimento, mas lembra que prefere o
contexto da teologia latino-americana, na qual tem caminhado. Para
Kivitz, a plataforma de idéias que embasam essa corrente eclesiástica
deve evitar as soluções aparentemente muito naturais, na base do modismo
ou de receitas de "como fazer".

"Cansados" – O administrador Luís Fernando Batista, gestor do site
Renovatio Café, que divulga conteúdo ligado ao movimento, ressalta que a
Igreja Emergente não deve ser usada como pretexto para que o crente não
se envolva com uma igreja local. "Muitos que falam sobre o movimento não
têm nenhum envolvimento efetivo com a missão e agem somente por mágoas
com alguma igreja tradicional, o que desencadeia observações
equivocadas", observa. "São apenas simpatizantes de qualquer coisa
evangélica fora do modelo de igreja tradicional, do qual se dizem
cansados". Batista conta que viu no site de uma igreja nos Estados
Unidos o anúncio da realização de três cultos no domingo pela manhã: o
primeiro, tradicional, com hinário e órgão; o segundo, com enfoque
contemporâneo, com apresentações em PowerPoint e dramatizações. O
terceiro era o culto emergente, com velas e rock alternativo.
"Congregações que fazem questão de se apresentar como emergentes querem
se colocar assim para apresentar-se como as igrejas que têm a novidade
do momento."

Todavia, ele aposta que surgirá em breve uma geração pós-evangélica que
vai rejeitar a igreja sem abandonar o respeito à pessoa de Jesus. "É
para atuar nessa área que surgem movimentos revolucionários, não
preocupados apenas em mudar a forma da igreja, mas em deixar a marca de
Cristo na sociedade." Para Sandro Baggio, o desafio do movimento
emergente é passar do estágio inicial, no qual, acredita, ainda se
encontra. "A Igreja Emergente precisa passar da fase da desconstrução
para a etapa da edificação", assinala.

Já o pastor Dan Kimball, outro líder dessa maneira alternativa de se
fazer igreja, prefere nem usar mais a terminologia do movimento. Por
esta razão, ele e o professor Scot McKnight formaram uma nova rede,
provisoriamente chamada de Origins (origens). Em sua opinião, a Igreja
Emergente desenvolveu-se em muitas vertentes teológicas. "A definição do
que é ser emergente mudou", sustenta. "Entretanto, continuarei
defendendo e trabalhando pelos ideais da Igreja Emergente, pois ela
representa evangelismo e missão para a nova geração que surge."