27/01/2009 - 08:51 por Redação

'Não mexam conosco'

Líderes da Renascer sobem o tom diante das críticas e conclamam fiéis a denunciar qualquer irregularidade em São Paulo.

Uma semana depois do desabamento do templo-sede da Igreja Renascer em Cristo em São Paulo – tragédia que provocou a morte de nove pessoas e deixou mais de 100 feridos –, os líderes da denominação, Estevam e Sônia Hernandes, resolveram subir o tom de suas declarações. Em uma mensagem transmitida dos Estados Unidos, o apóstolo da Renascer e a bispa Sônia conclamaram os fiéis ao revide contra os "ataques sistemáticos" que a igreja, no seu entender, vem sofrendo. "Entrem em qualquer estabelecimento e verifiquem se tem alvará. Se não tiver, denunciem", orientou Hernandes. A transmissão foi feita no culto das 19h deste domingo, realizado num salão alugado do Clube Homs, onde a congregação desalojada do templo da Rua Lins de Vasconcelos está se reunindo. "É bom que não mexam conosco, ou nos levantaremos para perseguir nossos inimigos, assim como nos perseguem", fez coro a bispa, em tom ameaçador.

A fala dos dois religiosos é uma resposta às suspeitas, levantadas pela Prefeitura e pela imprensa, de que o prédio que desabou não estava em dia com a fiscalização. Além disso, neste fim de semana, fiscais da Subprefeitura que coordena a região da Avenida Paulista, onde fica o Homs, multaram o clube porque o alvará da instituição não prevê o uso do salão para eventos de grande afluxo de pessoas, como os cultos. Cada um dos três cultos realizados na tarde do domingo, dia 25, representou uma multa de R$ 1,8 mil à agremiação, ou R$ 5,4 mil no total. O clube não comentou o episódio.

Já Hernandes enxergou na atitude da Prefeitura uma "perseguição religiosa" contra a igreja. Segundo ele, "noventa por cento" dos estabelecimentos de São Paulo estão irregulares. Foi o suficiente para que, num dos cultos, o bispo José Bruno, que responde pelas relações institucionais da Renascer, apelasse aos fiéis que ajam como fiscais. "Entrem a partir de amanhã em qualquer estabelecimento, seja bar ou restaurante, e vejam se tem alvará na parede. Se não tiver, denunciem. A prefeitura terá 1 milhão de denúncias para fiscalizar", afirmou.

A manobra seria uma tentativa de desviar a atenção das autoridades municipais sobre os locais de culto da Renascer. Neste sábado, o jornal Folha de São Paulo publicou que pelo menos dez templos da igreja espalhados pela capital paulista, com capacidade para mais de 500 pessoas cada um, funcionam irregularmente. Bruno é deputado estadual pelo DEM, o mesmo partido do prefeito Gilberto Kassab. Para justificar o ataque, o bispo afirmou que as subprefeituras não estão fazendo fiscalização, mas sim travando uma "campanha pelo fechamento dos templos da Renascer". "Gostaria de saber se algum outro estabelecimento da avenida Paulista foi fiscalizado, ou foi só o Clube Homs?", desafiou. Em provocação ao correligionário, Bruno lembrou o apoio que a denominação deu à reeleição de Kassab, ano passado: "Agora, ele vem nos perseguir? É tempo de acordarmos. Se é para limpar a cidade, que seja para todos."

Também nos cultos de ontem, as mensagens enviadas por Sônia e Estevam ressaltaram a necessidade de os fiéis contribuírem com a igreja. "A oferta levantada no dia da dor, da ameaça, do choro, no dia em que o inferno está nos enfrentando, abre uma janela no céu", prometeu a bispa. Ela e o marido disseram que o projeto de reconstrução da nova sede da Igreja Renascer em Cristo já está em execução. Estevam pediu que os membros fizessem ofertas de "bom samaritano" e de "corpo ferido". "Ninguém pode parar a igreja de Jesus Cristo", afirmou, diante da exultação dos fiéis.

O casal está retido nos Estados Unidos por ordem da Justiça americana. Em 2007, eles foram condenados por entrar com dinheiro não-declarado no país. Cada um cumpriu pena em regime fechado por seis meses e agora estão em liberdade condicional até junho, impedidos de deixar os EUA.

(Com reportagem do G1)